Próxima Parada: Priscila Lopes

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O show da vida

Por Priscila Lopes

Então a vida se descortinou
diante da plateia estarrecida

que lhe rogara vaias
que lhe atirara ovos
que lhe roubara a cena
que lhe aplaudira de pé
que lhe dera risadas
enquanto lhe espiava por baixo da saia

A plateia se prestou a um minuto de silêncio
enquanto a vida descortinada
mais do que nua, transparente
lhe apresentava sua outra face.

E as pessoas que se sentavam na primeira fila
eram as mais distantes da saída de emergência

E as pessoas que se sentavam ao fundo
com seus ingressos promocionais
não enxergaram o drama
não acreditaram na trama
e se puseram de volta para suas casas a mastigar os restos de pipoca.

E as pessoas ao centro
– ah, as pessoas ao centro!
fizeram previsões
fizeram amor
fizeram fofoca
fizeram oração
fizeram alarde
fizeram pirraça
e alguns ficaram tão chocados com a vida
que não fizeram nada.

Sentada em seu camarim
embalando o gim
a vida espera:
– a esperança é como pipa nos fios de luz –
quem, diabos, lhe estenderá a mão
para pedir um autógrafo que seja?

Priscila Lopes: Eu não sou escritora. Quando quiser parar, eu paro. Comecei ainda jovem com poesia, depois passei para contos e crônicas até ser contemplada com a Bolsa para Autores com Obra em Fase de Conclusão, da Biblioteca Nacional, e publicar meu primeiro livro de contos: “Uns traços, todos imponderáveis”, Editora da Casa (2010). Antes disso, cheguei a organizar a coletânea nacional “XXI Poetas de Hoje em Dia(nte)”, publicada pela editora Letras Contemporâneas com apoio do FUNCULTURAL/SC. E integrar a antologia “Cantares Catarinas – A Nova Poesia Catarinense” (2010), editora Todaletra. Não satisfeita, publiquei ainda “O Livro Espantado”, pela Editora Patuá em 2014. Mas isso tudo já faz meia década. Por isso eu afirmo sem constrangimentos: não sou escritora, juro, paro quando quiser. Foto: Flávio Tin

Próxima Parada: Paulino Jr.

Próxima Parada é o projeto de literatura da Revista Gulliver idealizado pela escritora, jornalista e artista Patrícia Galelli. Um espaço de difusão semanal de pessoas que escrevem em Santa Catarina sem um recorte de gênero, mas da produção num espaço geográfico, livre de estereótipos e que ganha leitores além das fronteiras. É uma viagem para conhecê-las, cumprimentá-las, acessar um recorte do mundo que criam.

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