Gugie. Crédito: Larissa Usanovich
A arte é fundamental para a convivência humana. Permite que ampliemos as percepções sobre as pessoas ao nosso redor, convida a um olhar humanizado àquele que é diferente ou igual a nós. Foi a partir dessas e de outras reflexões que a artista visual Monique Cavalcanti, a Gugie, concebeu Gestos, exposição que faz parte do trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais da Udesc e estará em cartaz entre os dias 10 a 13 de setembro, online pelo Instagram e também nas ruas de Florianópolis, que se transformarão em galeria.
A novidade é a maneira de contemplar as obras proposta pela artista: as oito telas estarão expostas nas ruas, em muros espalhados por sete bairros da Capital. O público está convidado a contemplar as obras mais próximas de sua casa ou trabalho, mas no Instagram do projeto haverá um percurso sugerido para quem desejar conferir a exposição completa. Quem não puder acompanhar pessoalmente poderá participar on-line, assistindo aos vídeos da artista, às lives com convidados e outras atividades virtuais.
Todas as obras retratam pessoas negras, referência que vem aparecendo com constância no trabalho da artista, que assina diversos murais pela região. Na Capital catarinense, destaca-se a homenagem a Antonieta de Barros (2019), primeira deputada estadual negra do país e primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina. A obra, um grande mural no centro da cidade, também leva assinatura de Tuane Ferreira e Valdi. Em 2019, Gugie ainda participou da 1ª Bienal Black Brazil Art, com a performance Obra de Arte, no Museu Histórico de Santa Catarina.
Gestos
Por Francine Goudel , historiadora de arte
No gesto potente e genuíno de duas mãos que se tocam e se unem, por entre os dedos que se entrelaçam, uma pequena porta é desenhada semiaberta apresentando um recinto luminoso. Pequena na representação, imensa na metáfora visual que ambienta, a porta sugere nossa sensível admissão dentro do toque terno de duas mãos negras. Punhos, palmas, unhas. Entrelaçadas em tons púrpura, magenta e castanho, as mãos aclimatam a via de possibilidades de apreciação: no interior deste gesto afetuoso encontraremos o análogo, o diverso, mas, sobretudo, encontraremos a nós mesmos, como um ponto inflexível da condição humana.
O processo de entrada nos trabalhos de Monique Cavalcanti (Gugie) é mesmo assim. Por entre repertórios de uma narrativa visual que anseia uma sensibilidade e naturalidade através do corpo negro. Em projeções em muros e telas, a artista visual e grafiteira coloca em evidência memórias e expressões de sua vivência em personagens de um ideal factível de estima. Um trabalho que tem como disparador construtivo a fotografia, mas que logo ganha ampla dimensão, novas paletas de cores e paisagens urbanas, na vontade de ocupação dos espaços, no desejo de acessibilidade de sua proposta.
A exposição Gestos não poderia ser diferente. Através da portinhola luminosa do afeto entramos na mostra e por ela adentraremos aos ambientes pictóricos de Gugie pele a pele, em toque, olhar, sensibilidade e identificação. A palavra gesto é entendida como uma forma de expressão do corpo, de movimentos e visagens, no entanto é também sinônimo de procedimento. Gestos como uma atitude na prática, configura esta como a melhor expressão para junção da “estétic(ação)”de Gugie.
Uma série de trabalhos desenvolvidos em um momento mundial que demanda do corpo maior veemência. Oito telas apresentadas de maneira virtual no mês de setembro de 2020, que também podem ser vistas por um percurso afetivo criado pela artista em sua cidade. Gugie em um processo curatorial, imaginando Florianópolis como uma grande sala expositiva, retorna aos seus locais de convivência e andanças, pleiteando as paredes externas das casas em tratativas com os moradores-galeristas, por um local de visibilidade que é de qualquer um. O resultado da exposição GESTOS é o ensejo da potência dos corpos negros refletida em uma poética de vida: proximidade, amabilidade, dignidade, possibilidade.
Exposição Gestos, de Monique Cavalcanti “Gugie”
Quando: de 10 a 13 de setembro
Onde: Muros espalhados por Florianópolis e pelo Instagram do projeto
Quanto: gratuito