Fotos: Tunai Arozi
Parece oportuno que o novo mural de grandes dimensões no Centro de Florianópolis tenha em seu centro uma figura feminina, a personificação de espírito ancestral responsável pela manutenção do equilíbrio da natureza por meio da criação/destruição. É como um respiro num contexto de pandemia e incerteza. O painel, iniciativa do Street Art Tour, será inaugurado nesta quinta, dia 30 de julho. Assinado pelo artista Rodrigo Rizo, a obra Natureza do Desterro tem 10 metros de largura por 33,5 metros de altura é uma homenagem à fauna e à flora de Florianópolis. Está localizada no alto da Rua Felipe Schmidt, nº 554, no paredão lateral do Hotel Zip. Para marcar a data, uma conversa pelo perfil @streetarttourfloripa do Instagram vai reunir os idealizadores do Street Art Tour, movimento de valorização e fomento da arte urbana na Capital.
O mural começou a ser pintado no dia 17 de junho. Antecedeu o trabalho na plataforma uma pesquisa minuciosa da natureza da cidade, além de estudo de desenhos para chegar ao projeto atual.
— A pintura do rosto é a parte mais complexa por ser o único elemento realista que ocupa ao mesmo tempo os dois “lados” do mural, que é dividido pela sequência de janelas do prédio. Isso complica por conta do acesso que é feito por duas plataformas independentes e que impossibilita trabalhar simultaneamente toda a área do rosto — explica o artista.
Obra representa personificação da natureza
A figura feminina que aparece em meio às plantas e animais é uma personificação da Natureza do Desterro, um espírito ancestral responsável pela manutenção do equilíbrio da natureza por meio da criação/destruição. Os traços do olhar foram extraídos de um retrato da artista Tuane Ferreira, companheira de Rizo. A coloração da personagem remete à terra e aos povos originários. Os grafismos do rosto remetem às inscrições rupestres, também como forma de homenagem à ancestralidade dos povos nativos de Florianópolis.
— A parte de detalhamento com os sprays foi a mais complexa, pois é um trabalho de sobreposição de inúmeras camadas de cores que vão fazendo com que as formas ganhem textura e volume para representar fielmente as características das espécies — detalha Rizo.
As imagens escolhidas para compor o mural são fotos de exemplares de espécies avistadas na região.
— Foi uma longa pesquisa até encontrar imagens que tivessem uma posição, uma fotografia interessante e que dialogasse com toda a composição. O encaixe é fundamental para ter harmonia. Um aspecto que dificultou bastante foi a questão da divisão das janelas do prédio. Aparentemente seria uma grande intervenção, mas estou satisfeito com a forma que encontrei para resolver a presença delas de forma que não interfiram no aspecto geral da obra — conta o artista.
Vento, chuva, sol forte e até ciclone ao longo da execução da obra
Depois de cinco semanas de trabalho quase diário, presos a equipamentos de segurança pesados e desconfortáveis e sob chuva ou sol forte, o cansaço começa a bater nos artistas:
— É desgastante pintar balançando o tempo todo, mas isso a gente tem que driblar e fazer o melhor que pode. O braço tem dias que parece que vai cair, porque a dor é intensa por conta do esforço físico — relata o autor. Ele contou com o apoio de dois artistas como assistentes: Tuane Ferreira e Rodrigo Pasmo.
Os dias de inverno também foram desafiadores, já que o sol se põe mais cedo e a região é escura à noite. Para o artista, autor do mural Cisne Negro e conhecido pelos camaleões nas ruas da cidade, foi seu maior desafio até então. O layout é bastante complexo, cheio de cores, elementos diferentes e realistas que requerem um trabalho rebuscado em cada figura.
— Mesmo com tantas dificuldades, a gente encontra uma satisfação enorme quando desce e olha para o que está sendo feito. É emocionante demais ver que algo que você criou e se dedicou tanto para realizar está de fato ganhando vida. É muito trabalho e amor envolvido por parte de tantas pessoas. Ao mesmo tempo tudo depende de quem está lá com o dedo apertando o spray, tem muita responsabilidade envolvida.
Um respiro em meio à pandemia
Natureza do Desterro estava planejada para ser inaugurada na data do aniversário de Florianópolis, em março. Com a pandemia, a programação do Street Art Tour mudou e a interação com o público durante a execução do mural foi diferente.
— Estamos na rua, mas isolados do contato com o público, sem provocar aglomerações. Mesmo assim ainda estamos expostos. É triste ver daqui de cima as pessoas na rua, muitas vezes sem máscaras. Saímos para rua para executar um projeto que tem um prazo. Fizemos isso tomando todos os cuidados necessários para correr o mínimo risco possível. E com a missão também de trazer um alívio e uma forma até de esperança para as pessoas. A cultura foi um dos setores que sofreu maior impacto econômico, pois literalmente o papel da cultura é juntar pessoas — lamenta o artista.
Um dos maiores desafios do Street Art Tour foi mobilizar e tocar a população com arte, mas sem estimulá-las a sair de casa. Por isso a realização de lives e divulgação de imagens pelas redes sociais.
Conversa ao vivo no dia 30/7 com os idealizadores
Depois de tour virtual pelos detalhes do mural Natureza do Desterro no último domingo (26), será realizada, nesta quinta (30), às 20h, conversa ao vivo pelas redes sociais do movimento com idealizadores do Street Art Tour — Rodrigo Rizo, Marina Tavares e Arturo Valle Junior. No bate-papo, os assuntos serão o novo mural recém concluído, a arte urbana na Capital, a agenda do movimento para 2020 e outras novidades. Será uma oportunidade de trocar ideias e fazer perguntas ao artista e produtores.
O Street Art Tour é patrocinado pelo município de Florianópolis e pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura nº 3659/91. O projeto tem o apoio cultural do Angeloni Supermercados, Corporate Park, Fiori Empreendimentos e Hotel Zip. Apoio da Anjo Tintas, MTN Brasil e Ondrepsb. A coordenação geral é do Studio de Ideias.
Agende-se
Conversa ao vivo com idealizadores do Street Art Tour no lançamento do mural Natureza do Desterro
30/7, às 20h
No @streetarttourfloripa