Três Cantos do Matita Perê
Por Diogo Araujo
Canto 2 do Matita Perê
Quando Matita Perê floresce
Rebentando de raiva e ardor
É como se Deus se escondesse
Para Matita aparecer
E só lhe restasse o amor.
Tudo são águas límpidas:
Matita Perê sumido
É Matita Perê ouvido.
E todos os segredos são de Deus
Todos os tempos são carne
Quando Matita Perê floresce
Pra quem pode com todo alarde.
Matita Perê quando quer
Fez querer
Na mata
E na saudade
De se ter
E esconder.
Canto 4 do Matita Perê
Algumas pessoas ao sol
Algumas pessoas à sombra
Matita Perê no meio
Onde nem o sol, nem a sombra
Podem alcançar.
Matita Perê sol e sombra
Amando o amor de amar
E amante.
Diabo do meio-dia
Anjo da meia-noite
Às seis da manhã desejante
Às seis da tarde guerreiro
Palavra no corpo inteiro.
Música de explosões
Entra pelo ouvido de Matita Perê
Desce pelo peito de Matita Perê
Vira amor às frutas da boca sedenta
À pele dura de Matita Perê
Volta para o coração e o suvaco
E os braços
De Matita Perê
Que ri e que chora
Pois se engana e desengana:
O amor é aqui ou ali.
Matita Perê sorrindo
Fenda do tempo
Aberto diamante
De cores estonteantes
Em sombra
Em sangue
Em céu.
A verdade cai por terra
Ama-a
E Matita Perê é levante.
Canto 6 do Matita Perê
O amor tira tudo
Tira todas as máscaras
Inclusive as de Matita Perê
A quem nunca se viu:
O amor tira todos os rostos.
Matita Perê é o amor
Esquecido e escrachado
Por toda fruta em ardor.
Matita Perê é o grito
Polido e paralisado
Por todo vivente em pavor.
E Matita Perê é raio:
Amou a alegria do deserto
E quer
Porque quer
A carne da fruta
Do avesso do mundo.
O amor tira tudo
Dá-nos até o segundo
E o ar é nosso
E poderíamos voar
Sem espera
E em desespero.
Matita Perê
É quem dança
Quando alguém dança
Se alguém vê.
Diogo Araujo é escritor. É também natural de Florianópolis, formado em Filosofia e doutorando em Literatura atualmente (sempre pela UFSC). Escreve no blog “As Pipas” e tem outro blog para todos os “Cantos do Matita Perê“. Foto: Ayrton Cruz.
Próxima Parada: Juliana Pereira
Próxima Parada é o projeto de literatura da Revista Gulliver idealizado pela escritora, jornalista e artista Patrícia Galelli. Um espaço de difusão semanal de pessoas que escrevem em Santa Catarina sem um recorte de gênero, mas da produção num espaço geográfico, livre de estereótipos e que ganha leitores além das fronteiras. É uma viagem para conhecê-las, cumprimentá-las, acessar um recorte do mundo que criam.