Cracas & naves
por Fernando Boppré
A embarcação está toda ali. Não inteira é verdade Há parte invisível, debaixo d´água a quem – como nós, da terra vê. O casco afunda-se. É da natureza das naves terem cascos submersos. Juntam cracas. A cor do casco não deve ser branca, nem azul. O branco não resiste ao fundo do mar, escurece. O azul não ajuda quando a embarcação vira náufragos procurando por ela em meio ao desastre. confunde-se com o mar. a situação só piora quando escuro e bravio o mar está. Mesmo se dia, em meio ao turbilhão, faz-se noite e desespero. O ideal que se utilize cascos em tons amarelos, opostos ao azul do mar, para em caso de emergência.
Cracas se agarram à superfícies ou corpos por meio de alongados pendúnculos, instrumento associativo, por excelência, como é sabido, pela Biologia. Capazes de se firmarem aos cascos de navios de tal modo e em tamanha proliferação que chegam a deformá-lo e, consequentemente, a retardar seu deslocamento.
As cracas são esculturas imprudentes que ao longo da milenar história dos humanos retardaram a velocidade náutica. A América antes vista pelos olhos ibéricos de um genovês não fossem os anos de atraso acumulados por essas massas orgânicas informes. Dos gregos aos ingleses, dos cartagenenses aos galegos, dos vikings aos kin-tiks, velocidade do correr por mar sempre foi inversamente proporcional ao número de artrópodes, da classe dos crustáceos, subclasse dos cirrípedes, parte de um grupo que abriga mais de mil espécies, que adota por casa, lar ou coisa que o valha, o casco de embarcações.
Fernando Boppré é nascido em Florianópolis em 1983 e atualmente vive e trabalha em Chapecó (SC) onde mantém a Humana Sebo e Livraria. Trata-se de uma livraria independente que também possui uma galeria de arte e, recentemente, estreou como editora (www.humanasebolivraria.com.br). Trabalhou no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis, coordenando os programas de exposição e de agenda cultural. Em maio de 2020, durante a pandemia, lançou o livro “Poço certo”, pela Caiaponte Edições. Foto: Lilian Barbon.
Próxima Parada: Eduardo Sens
Próxima Parada é o projeto de literatura da Revista Gulliver idealizado pela escritora, jornalista e artista Patrícia Galelli. Um espaço de difusão semanal de pessoas que escrevem em Santa Catarina sem um recorte de gênero, mas da produção num espaço geográfico, livre de estereótipos e que ganha leitores além das fronteiras. É uma viagem para conhecê-las, cumprimentá-las, acessar um recorte do mundo que criam.