Contratempo
Por Juliana Pereira
tem gente que pode
sorrir para o tempo
a qualquer hora
tomá-lo em goles lentos
senti-lo como se deseja
único belo singular
tem gente que gostaria
de apreciar a beleza
do tempo
de cada detalhe
da vida
o tempo do alimento no preparo da comida
gente que cozinha
no tempo que não tem
tem gente que pode
começar o dia
no tempo do seu próprio fluxo
gente que pode
se quiser
pensar e viver no tempo
que sempre esteve por aí
nas canções
e nos poemas
tempo que não é
mesmo possível medir
tem gente que escuta
as canções sobre o tempo
distantes do seu
tempo medido e contado
em horas de trabalho
tempo que não sobra
tem gente que pode
não só ter todo
o tempo do mundo
mas arrancar
todo o tempo
de outra gente
para si
tem gente que há séculos
to-dos-os-di-as
tem um sem fim de horas
tiradas de suas costas
sem receber
um tostão
gente que teve seu tempo
levado
pelo tempo (é dinheiro)
do progresso
cujo tempo
é preciso desacelerar
não tendo tempo
para se organizar
tendo muito a dizer
sente no corpo
a gente
que sabe
o que lhe foi roubado
deve ser seu
e será
Juliana Pereira é nascida e residente em Florianópolis-SC. É formada em Letras-Português pela UFSC, onde também fez mestrado (2018) em poesia contemporânea. Participa da coletiva de poetas mulheres Abrasabarca , com quem publicou dois livros, Abrasabarca (2018, Editora Medusa) e Revoluta (2019, Editora Caiaponte). Também tem poemas publicados na coluna “Poéticas da Convivência” da Abrasabarca no Portal Catarinas (2020). Foto: Arquivo pessoal.
Próxima Parada: Carlos Henrique Schroeder
Próxima Parada é o projeto de literatura da Revista Gulliver idealizado pela escritora, jornalista e artista Patrícia Galelli. Um espaço de difusão semanal de pessoas que escrevem em Santa Catarina sem um recorte de gênero, mas da produção num espaço geográfico, livre de estereótipos e que ganha leitores além das fronteiras. É uma viagem para conhecê-las, cumprimentá-las, acessar um recorte do mundo que criam.