Da inércia de dentro de casa, isolado, até a estranha sensação (falsa?) de proteção das máscaras, a repulsa diante da aproximação de uma pessoa, o estímulo de uma música, um filme, uma cena, uma conversa virtual, o ato de cozinhar. Como se move o seu corpo? O seu corpo é odiado? É assediado? Em Ações para Reexistir, o ator Daniel Olivetto compartilha experimentos de existência e resistência do próprio corpo. Para quem tem curiosidade de saber como é o processo criativo de artistas, o diário da pesquisa está documentado no site do projeto e no Instagram (@acoesparareexistir) .
O projeto parte de dois lugares. Um técnico, baseado na vontade do ator de trabalhar com outras linguagens além do teatro; e outro temático, em resposta ao movimento conservador que se descortinou a partir das Eleições de 2018, quando a ideia foi concebida. Nesse sentido, propõe uma experiência de formação e criação por meio da interdisciplinaridade (performance, audiovisual, dança, som), campos pouco explorados no contexto artístico regional.
— Uma das coisas emblemáticas de 2018 é que foi um período em que se discutiu muito a homofobia. Foi muito violento, porque as pessoas saíram do armário no sentido inverso. Todo mundo pensando isso o tempo todo e a gente não sabia? — comenta o ator.
No final de 2019 o projeto saiu do papel para a prática em sala. Agora, no contexto de pandemia, continua na dimensão virtual e discute questões tão urgentes quanto as que estavam em pauta dois anos atrás: o lugar do corpo como minoria, como grupo de risco, o corpo do/a artista, de educadores/as.
— Tem o fato de resistir / (re)existir serem a mesma palavra. Tem um pouco a agonia de colocar as coisas na prática. E o processo de pensar o corpo tem sido interessante: o corpo todo, não só o que levanta para ensaiar — diz.
Mestre em Teatro (Udesc), Olivetto vive em Itajaí, cidade com uma das cenas culturais mais pulsantes de Santa Catarina. É ator, diretor e produtor teatral. Atua também como designer, cenógrafo e iluminador. Integra a Cia. Experimentus desde 1999.
Três artistas, três performances diferentes
Ações para Reexistir conta com a interlocução de três artistas mulheres: a cineasta Loli Menezes, a dançarina e pesquisadora Sandra Meyer e a musicista e iluminadora Hedra Rockenbach. Ao longo de 2020, o ator estará em cena em três performances distintas que resultarão do intercâmbio com as convidadas.
— Como trabalhar com diretores/as com quem ainda não trabalhei? Criamos então três processos de intercâmbio que ocorrem em momentos separados, com começo, meio e fim. Com cada uma a experiência é diferente e gera um tipo de ação, não necessariamente teatral, ou de dança, ou cinematográfica. Trata-se de um momento para artistas se encontrarem e pensarem como os trabalhos se conectam — detalha Olivetto.
Com a pandemia, os três processos acontecem ao mesmo tempo. São diferentes trabalhos a partir do que cada uma propõe, mas que se conectam.
Estão previstas ainda rodas de conversa entre o público e artistas participantes. O objetivo era concluir as etapas de intercâmbio por meio de ações públicas em diferentes espaços de Itajaí, mas a necessidade de distanciamento estimulou os artistas a pensar formas de diálogo com o público em ações virtuais também. Algumas das ações realizadas no isolamento já estão disponíveis em vídeo, foto e relatos disponíveis no diário do processo no site.