Depois do muro, a nova fronteira: diário fotográfico do quintal, por Felipe Carneiro

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A percepção é a fronteira entre o antes e depois da pandemia. Sempre na rua a fotografar paisagens, as pessoas, o vaivém da cidade, o fotógrafo Felipe Carneiro de repente viu seu ponto de vista ser reduzido ao espaço doméstico em respeito à quarentena. Mas reduzido não é a palavra. Ao perceber a grandeza de coisas pequenas — as cores da rotina, os coelhos desenhados por nuvens, os mamões verdes no jardim —, é como se a vida dentro de casa passasse a ser mais visível. O quintal, antes do coronavírus, era o mesmo. Só que agora está mais bonito. 

O diário e os registros fotográficos feitos ao longo de uma semana por Carneiro para a Revista Gulliver são um convite a cruzar as fronteiras da invisibilidade doméstica.

“Que dia é hoje?

As terças-feiras se fizeram domingos de repente. Os sábados estão presentes todos os dias. Não era para ser, mas é. É como se trabalhássemos aos feriados e nos divertíssemos às segundas em meio ao pregão da bolsa. Em meio à confusão dos dias, horário, datas, o simples reaparece. O mamão no pé ou o maracujá colhido no quintal. A paisagem escondida atrás da rotina, bem ali, depois da janela do quarto.

Vejo coelhos nas nuvens entre tarefas e a lua nascer durante o expediente. Vejo a vida como sempre deveria ter sido. Onde nos perdemos? E que maneira de nos reencontrarmos, não?

As crianças estão aqui, ao lado. Também aprendem, exercitam a criatividade, como crianças de verdade.

Depois do muro, a nova fronteira, há de haver certa solidão e melancolia. Reflexão para a vida nos momentos solitários. Mas a certeza de que não é para sempre conforta e faz o ser humano voltar a ser humano.

Que dia é hoje?
Importa mesmo?
Estamos mesmo de trás pra frente ou esse movimento vagaroso é o que
precisava para devolvermos as prioridades aos devidos lugares?
Hoje é dia de vida.”

Felipe Carneiro | Instagram: @fcarneirophoto

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