O retrato de uma geração suicida pauta o extraordinário O Professor Substituto

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Após uma sequência inicial sem diálogos, a primeira pergunta ao professor interpretado por Laurent Lafitte no filme O Professor de Substituto, de Sébastien Marnier, é: ­- você precisa de alguma ajuda?. Como aprendemos na vida, silêncios não são quebrados por nada. E a resposta vem exatamente na última fala de seu protagonista no espetáculo aterrorizante proposto neste longa-metragem francês que dialoga sobre as próximas gerações com um pessimismo contagioso: – A ajuda está a caminho.

Mas que ajuda? O ciclo vicioso da obra, que encontra em cinco garotos dotados de uma inteligência fora do comum sua fomentação para o mórbido, demonstra-nos que o horror pode surgir das coisas mais inocentes possíveis, como a expectativa do próprio futuro.

Quem seremos amanhã?” é basicamente o que dita o admirável filme de Marnier, onde o suspense é sintomático e a inteligência daqueles jovens é compreendida estando à mercê do pragmatismo social. O que significa estar à frente, em um mundo como o nosso? Há um momento chave no segundo ato do filme, em que Dimitri e Apolline (Luàna Bajrami, na melhor atuação do ano) são enquadrados na exata circunferência de dois professores, dois acadêmicos, que vão caminhando na mesma direção, com idades distintas. Aos poucos, a inteligência daqueles jovens os indica que a jornada é a mesma para todos, o sol nasce e se põe (como indica o diretor pontualmente) para todos. Somos replicadores de comportamentos.

Sébastien Marnier nos expõe, sob esta ótica, diante das nossas expectativas juvenis, nossos sonhos, a promessa de algo, antes de entrarmos na estagnação, na frustração e desilusão. Os jovens, porém, por possuírem conhecimentos acima da média acabam se tornando frustrados antes do tempo, conhecedores de seu destino. Quando Pierre indaga os “sonhos” dos alunos, as respostas são pragmáticas: aquelas crianças já são adultas e sabem o segredo do sistema – não há sonho algum. O professor, neste panorama, age como um intermediário entre a juventude e a velhice. É ele que se aproxima, interliga a conveniência do conhecimento, resguarda a velhice de certas decisões da juventude e, conforme o tempo passa, ele se posta do lado dela – do alarme para a piscina, da piscina para o mar, do mar para o deque, do deque ao voyeurismo do caos. Quando é perguntado sobre o que ele vê no professor que deseja, Pierre é sucinto: – Ele parece feliz. Isso já é um começo. Todos buscam alternativa à miserabilidade. Mas todos ficam, lado a lado, frente ao colapso de tudo. Enquanto todos fogem para não observar o que está na frente deles, os cinco e o professor encaram de volta.

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