Próxima Parada: Chris Mayer

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Grito de guerra

Por Chris Mayer

Querem me transformar em uma formiga mecânica. Gráficos de pizza! Perfeito para uma formiga.
Mas eu sei escrever!  grito esfolada.
E objeto direto dessas tarefas vou ao jardim pautado atrás de vermelhas interrogações e pimentas vírgulas. Tintas, alfabetos, lápis de samambaia.
Encontro só o ponto. E ele está por toda parte. Sufocante. Opressor.
Não tenho chance. Espero a noite para me esconder em meio às crases obscuras.
Roubo todas as pizzas, cujo queijo derretido aparece surpreendentemente em cada entrelinha ambígua e redundante, salpicado de tomate e orégano, enganando as estatísticas fatiadas enquanto toda parafernália sem poética emperra.
Minhas cigarras, não! grito de guerra. E atiro reticências abrasadoras… Sou a cavaleira solitária a fazer o bem pelo mundo sem ponto e vírgula nem conta de luz. Apenas o queijo de gráficos roubados e uma caneta feita de parênteses.
Não com esses travessões inquietos em uma mente de Quixote sem Sancho Pança. Mas com outras letras que matem a fome de pontuação clara desse povo.
Transformada em matéria, talvez uma palavra possa realizar-se, uma sentença ter a graça de ser cumprida, o parágrafo ter a fama de compreensivo, e o texto – esse ser coletivo – finalmente, possível.

Chris Mayer – Fotógrafa profissional desde 1991, atua também como editora de fotografia, consultora, jornalista (bacharel pela UFGRS), colunista, atriz palhaça e videomaker. Estreou um canal de vídeos – Janela Cômica – em 2020 durante a quarentena. Fotografa e pesquisa espetáculos presenciais desde 2013. Nasceu chorando como boa menina, mas rebelou-se cedo assistindo Hair (1974). Participou do primeiro Rockn’ Rio, das manifestações pelas Diretas Já e criou a Sapho em Cena nos primórdios dos anos 2000, uma mostra mensal gratuita de filmes com temática lésbica no MIS/CIC. Foi funcionária pública do TRT e da Caixa Federal, vendeu ímãs de geladeira e já se alimentou de miojo com ovo nos tempos difíceis. Foi também professora de fotografia nas faculdades de jornalismo, publicidade, artes visuais e arquitetura e teve um laboratório P&B na lavanderia de seu apto. Tem forte conexão com os animais, inclusive já tratou de corujas e gambás atropelados. É propriedade de um casal de gatos que dominam a cama e a casa: Meg e Fred. Procura uma namorada, uma parceira. Foi/é colunista e fotógrafa do Portal Catarinas, jornalismo com perspectiva de gênero. Fez artesanalmente um livro de fotopoemas: “Eu não Entendo”. Ama arte – qualquer arte – e se dedica à escrita, à palhaçaria, aos vídeos e à fotografia autoral em tempo integral. Foto: Arquivo pessoal

Próxima Parada: Alcides Buss

Próxima Parada é o projeto de literatura da Revista Gulliver idealizado pela escritora, jornalista e artista Patrícia Galelli. Um espaço de difusão semanal de pessoas que escrevem em Santa Catarina sem um recorte de gênero, mas da produção num espaço geográfico, livre de estereótipos e que ganha leitores além das fronteiras. É uma viagem para conhecê-las, cumprimentá-las, acessar um recorte do mundo que criam.

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