Duo otropicalista ocupa a coluna Ttéia com exercícios antiterraplanismo para montar em casa

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Exercícios antiterraplanismo

Por otropicalista

Sólidos platônicos são corpos convexos cujas arestas produzem polígonos planos regulares e congruentes. Seu conhecimento é, até onde há evidências, contemporâneo à noção de que a Terra é redonda e antecede, em centenas de anos, a era cristã.

O fenômeno da entronização de crenças ou da opinião própria sobre os dados científicos é ainda mais antigo. Ao invés de simples desconhecimento ou saudável práxis de ceticismo, pode revelar poderosa defesa narcísica a sentimentos de inadequação, em particular entre os que se sentem impotentes ou desfavorecidos.

O desconforto frente à crescente incerteza e complexidade da vida, da forma como a temos fabricado, produz dissonâncias cognitivas que são ávidas por explicações simples para fenômenos complexos. Saber disso pode direcionar o entendimento da narrativa terraplanista, assim como de outros movimentos negacionistas, como uma tentativa desesperada de controle e de reconhecimento.

Se Copérnico produziu a primeira ferida narcísica da humanidade ao demonstrar que não éramos o centro do universo e Darwin nos reduziu a mais uma espécie a coabitar este minúsculo globo azul, foi Freud quem revelou que não somos soberanos nem de nós mesmos. Mais de um século depois, as neurociências vêm demonstrando que nossos circuitos neurais são muito mais impressionáveis pelas emoções do que pela razão. Não será, portanto, o debate realizado a partir do paradigma científico capaz de produzir conciliação ao pé, justamente, dos que dele desconfiam. Não só não funciona, é contraproducente.

Exercícios antiterraplanismo constituem-se da montagem dos cinco sólidos platônicos a partir de imagens planificadas. As instruções são simples e intuitivas: a) imprima ou copie os moldes; b) recorte; c) cole as abas. É um passatempo, uma brincadeira.

otropicalista: marcelo.fialho + marco d.julio
Somos um laboratório de pesquisa, experimentação, desenvolvimento e divulgação de projetos e práticas culturais e artísticas em diferentes linguagens. Inspirados na riqueza da cultura brasileira, nossos trabalhos são caracterizados por sua diversidade. Discutimos os limites e os diálogos possíveis entre arte, artesanato e design. Nosso olhar está voltado para a fusão da tradição artesanal com as novas tecnologias. Acreditamos na potência do encontro entre produtores responsáveis e consumidores éticos. Focamos nas pessoas, buscando a integração entre bem-estar individual, sócio-cultural e ambiental.

Fotografia de Luciana Moraes

Kamilla Nunes é artista, curadora independente, crítica de arte e professora, atualmente doutoranda no Programa de Pós-Graduação do Ceart/Udesc. Foi gestora do Espaço Embarcação, em Florianópolis [2015 a 2018], curadora do Espaço Cultural O Sítio [2015] e diretora do Instituto Meyer Filho [2010 a 2014]. Integrou o grupo de curadoria de Frestas Trienal de Artes [SESC, 2014, Sorocaba] e idealizou a Rede Artéria em parceria com o artista Bruno Vilela. É curadora do programa de exposições do Memorial Meyer Filho desde 2008 e autora do livro Espaços autônomos de arte contemporânea (2013). Atualmente pesquisa e ministra aulas sobre Arte Brasileira Contemporânea e está desenvolvendo um processo de criação que fricciona campos do conhecimento, como a psicanálise e o materialismo histórico.

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