Num dos meus delírios de escrita, a mão que pensa é atravessada por uma coluna vertebral, do dedo médio à palma. Coluna flexível a ponto de juntar o atlas, a primeira vértebra cervical – que segura a cabeça – ao cóccix, o conjunto de vértebras que dava sustentação aos nossos antepassados e de onde (hipoteticamente) nos sairia um rabo, cóccix que agora serve basicamente para doer quando caímos de costas. Na coluna da minha mão que escreve, a primeira vértebra, na ponta do dedo, se encaixa no cóccix da palma na hora de escrever. Essa junção estabelece a base para que o indicador e o polegar segurem o lápis, a lapiseira, a caneta e qualquer outro instrumento de escrita.
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Isso quando escrevo à mão, na minha caligrafia mutante – a mão pensa para dentro, como quando escrevo nos diários e caderninhos de anotações. É diferente de escrever para fora, no teclado do computador, com o exoesqueleto dos outros quatro dedos. Com a coluna vertebral das mãos alongada, começo esta coluna mensal na Gulliver e convido você a alongar a vértebra dos olhos para me acompanhar!
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Patrícia Galelli é escritora, jornalista e artista-pesquisadora.
para Helder Martinovsky nada da bacia hidrográfica de um homem chega ao mar, nada de um homem evapora. circuito contido, sistema pressionado. num rio não é assim. um rio se alimenta quando chove e corre como lhe convém o tempo. um rio não nasce do olho, mas do choro. um homem é sempre um organismo…
