Edição especial do Fazendo Gênero debate temas urgentes como trabalho doméstico e anticapacitismo

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Como tantas agendas programadas para 2020, a 12ª edição do Seminário Internacional Fazendo Gênero precisou ser adiada para 2021. O debate sobre feminismos e visibilidades de minorias, no entanto, segue no ambiente virtual. Entre os dias 27 e 30 de julho, a organização do evento promove uma série de atividades chamadas Rumo ao Fazendo Gênero 12.  São ações de construção para o encontro presencial no próximo ano e que colocam no centro da discussão questões urgentes diante da especificidade do contexto de pandemia, entre elas o Trabalho Doméstico — ofício que coloca em risco as vidas de pessoas que em maioria são mulheres negras.

A programação começa na segunda (27), às 19h, e será transmitido ao vivo pelo canal do Instituto de Estudos de Gênero – UFSC no YouTube, neste link.  A programação completa está aqui.

O Fazendo Gênero é realizado desde 1994 na UFSC, com apoio da Udesc, e reúne pesquisadoras, estudantes, ativistas, artistas, professoras e interessadas nas questões que envolvem o gênero, as mulheres, feminismos e sexualidades.

Nesta entrevista, a coordenação do Seminário (formada pelas professoras e pesquisadoras Alessandra Brandão, Janine Gomes da Silva e Marlene de Fáveri) falou sobre algumas lutas necessárias, uma delas contra o capacitismo: a opressão e a discriminação contra pessoas com deficiência, fator que opera e produz sua marginalidade. Leia a seguir.

O Fazendo Gênero 12 na verdade foi remarcado para 2021, certo? Por que acharam conveniente uma edição virtual em 2020? Como entendem que a internet neste momento pode conectar pessoas e ideias?

Sentimos muito por todo o contexto, mas foi necessário adiar a edição deste ano, seguindo as orientações de segurança e saúde impostas pela pandemia e de acordo com a suspensão das atividades e do calendário acadêmico da UFSC. O que estamos propondo para a próxima semana, de 26 a 30 de julho, não é exatamente uma edição do Fazendo Gênero. Trata-se de uma entre várias ações de construção do encontro presencial, que chamamos de atividades Rumo ao Fazendo Gênero 12. Assim, esse mini evento de caráter remoto e gratuito não é de forma alguma um substituto para o evento maior, mas uma maneira que encontramos de nos comunicar com a comunidade de pessoas inscritas no evento e de pessoas que se interessam pelo Fazendo Gênero de maneira geral, para marcar a data em que estaria acontecendo o evento presencial e também dar visibilidade ao trabalho de construção do Fazendo Gênero. Há todo um processo ainda em andamento e que mobiliza diversas comissões. A natureza remota dessa atividade nos coloca muitos desafios, desde a mediação até o alcance do público. Mas achamos que seria importante fazer algo, ainda que com uma programação bem curta, mas com debates relevantes para o momento atual e condizentes com a concepção geral do Fazendo Gênero.

Gostaria que comentassem sobre a programação: como foi a curadoria e por que as escolhas desses temas?

O Fazendo Gênero é sempre fruto de um trabalho colaborativo. Há muitas comissões envolvidas no preparo. Desde a concepção do tema até o momento da realização, fazemos muitas reuniões para discutir e tomar decisões conjuntamente. Essas reuniões são abertas e a adesão às comissões acontece de maneira muito livre. Para esse nosso experimento na versão remota, contamos com uma programação construída pelas comissões já em processo de elaboração da versão presencial: as comissões de Atividades Culturais, de Acessibilidade e de Movimentos Sociais. A ideia foi pensar o impacto da pandemia nas vidas vulneráveis, considerando os atravessamentos de gênero, raça, classe, sexualidade e deficiência, principalmente.

A coordenação propôs a discussão do Trabalho Doméstico, compreendendo a acentuada importância desse debate na especificidade da pandemia, que coloca em risco as vidas de inúmeras pessoas que vivem do trabalho doméstico, e que em maioria esmagadora, são mulheres negras. A formação das mesas parte sempre de uma perspectiva interseccional, tentando articular uma aproximação entre a vida e a academia, entre a produção artística e a luta dos movimentos sociais com os debates acadêmicos em torno de gênero e sexualidade e seus atravessamentos, sempre de acordo com a concepção geral do Seminário Fazendo Gênero e na tentativa de diálogo com o contexto atual. 

Dois pontos da programação chamaram atenção: a conversa Mulheres com Deficiência e suas intersecções e a oficina/debate sobre Anticapacitismo. O que é o anticapacitismo e por que trazer essa discussão?

A Roda de Conversa de Mulheres com Deficiência foi articulada pela coordenação do FG com a Comissão de Acessibilidade em diálogo com o Coletivo Helen Keller, com o objetivo de colocar em pauta as vidas das mulheres com deficiência do ponto de vista específico das intersecções. Quando falamos em interseccionalidade é muito comum falarmos dos marcadores de gênero, raça e sexualidade, por exemplo, mas queremos ressaltar com essa sessão, aspectos relativos às suas subjetividades atravessadas por desejos (sexualidades dissidentes, por exemplo),  violências (racismo, homofobia) e capacitismo, entre outras questões concernentes a  suas existências como mulheres (cis ou trans) no mundo. Nesse contexto, nos interessa muito pensar o impacto da pandemia em suas vidas e a luta contra o capacitismo.

O Fazendo Gênero 12 tem feito um trabalho mais abrangente em relação à questão da acessibilidade, promovendo mais possibilidades de participação para pessoas com deficiência, mas achamos muito importante discutir também a problemática da sua invisibilidade. O capacitismo, que é a opressão e a discriminação contra pessoas com deficiência, é um fator que opera e produz sua marginalidade, por isso é tão necessário lutar contra o capacitismo. É a partir dessa luta que a Comissão de Movimentos Sociais também em diálogo com a Comissão de Acessibilidade do Fazendo Gênero propõe um debate seguido de uma oficina como foco no anticapacitismo. A informação é fundamental para demover os vetores de exclusão do capacitismo. 

Para além da edição 2020, vocês estão preparando o Seminário presencial para o ano que vem, certo? Já tem data e tema?

O que estamos propondo agora em 2020 é um experimento dado na urgência do momento atual e com uma natureza muito diversa do que seria o encontro presencial, uma vez que acontece completamente no formato remoto. É uma das atividades Rumo ao Fazendo Gênero, e que terá outras ações ainda esse ano. Com o adiamento sem data definida ainda, tivemos que alterar todo um cronograma previsto para acontecer esse ano. O tema da edição 12 do Fazendo Gênero, que ainda está em preparo, permanece o mesmo: Lugares de Fala – Direitos, Diversidades, Afetos. Assumimos o plural como forma de pensar as diversidades em chave interseccional, configurando uma busca por direitos que não pode desprezar a importância das relações e dos afetos que caracterizam as lutas na contemporaneidade.

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